Campos Neto: “Ruído é primeiro teste para autonomia do Banco Central”
Em evento organizado pelo BTG Pactual, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que vê de forma natural críticas do governo
Depois da entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite de ontem (13/2), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falou na manhã desta terça-feira (14/2) a uma plateia de executivos e membros do mercado financeiro.
No mesmo tom conciliatório do discurso do dia anterior, Campos Neto disse ver com naturalidade os questionamentos do governo Lula sobre o nível da taxa de juros no Brasil.
“É justo questionar os juros altos, e é importante ter alguém no governo que faça isso. Faz parte do jogo e do equilíbrio natural. É trabalho do Banco Central melhorar a comunicação sobre suas decisões. Eu reconheço que poderia ter feito isso de forma mais frequente e didática”, disse o presidente do BC, em evento organizado pelo banco BTG Pactual.
Ele ponderou que, embora a crítica seja natural, quanto mais fortes forem as instituições, mais intenso pode ser o debate e menos os preços de ativos e as expectativas serão afetados.
“A experiência de outros países mostra que o primeiro teste da autonomia (do BC), como acontece geralmente em troca de governos, gera mais ruído. Mas, quando isso (a autonomia) sobrevive, então o sistema navega muito bem”, disse.
Ainda na linha da trégua, Campos Neto disse que o governo tem apenas 45 dias de atuação e que o investidor tem sido “apressado” ao cobrar novas medidas. Ele foi elogioso ao trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estaria atento à necessidade de um “seguir um plano fiscal com disciplina, com o arcabouço (fiscal) que já está sendo construído”.
Meta inflacionária
Sobre a meta inflacionária, o presidente do BC disse que não cabe à autoridade monetária deliberar qual será o nível de inflação a ser perseguido.
“A regra do jogo é clara: quem determina a meta não é o Banco Central; ele apenas tem autonomia operacional e um conjunto de instrumentos para seguir a meta. Eu até preferiria que o BC não tivesse poder de decisão, porque vejo um conflito de interesse no fato de você definir a meta que deve seguir”, afirmou Campos Neto.
Ele lembrou que a meta inflacionária é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), cujo presidente é o ministro da Fazenda. “O Banco Central tem um voto de três (no CMN), e o sistema funciona bem assim”, concluiu.
Apesar disso, o chefe da autoridade monetária disse não ver como positiva qualquer mudança na meta inflacionária agora, uma vez que o efeito obtido pode ser o oposto do esperado por Lula.
“Países que fizeram essa relação de troca, de aceitar um pouco mais de inflação para ter mais crescimento, acabaram com uma inflação muito alta e uma economia que cresce pouco”, alertou Campos Neto.
O presidente do BC lembrou que muitos países passaram a conviver com uma inflação mais elevada no pós-pandemia, mas isso não significa, necessariamente, que aumentar a meta inflacionária no Brasil trará a flexibilidade que o governo espera.
“Aperfeiçoamentos (na meta de inflação) são bem-vindos, porque geram melhorias operacionais. Não posso adiantar quais mudanças estão em análise, mesmo porque o Banco Central até pode propor algo, mas quem aprova é o governo”, finalizou.
Fonte https://www.metropoles.com/negocios/campos-neto-ruido-e-primeiro-teste-para-autonomia-do-banco-central