Além do gênero: como dupla jornada, maternidade e raça impactam na diferença de salário entre homens e mulheres
Para além da desconfiança existente só pelo gênero, mulheres ainda têm outros tantos desafios na luta por igualdade de condições e remuneração no mercado de trabalho.
Desafios estes que incluem dupla jornada, cuidado com os filhos, desigualdades de raça e até a preferência por profissões menos bem remuneradas, uma questão difícil de resolver e que está ligada a fatores culturais e históricos, como explica Carmen Migueles, professora e pesquisadora da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV-RJ.
"A jornada dupla, jornada tripla, ela impacta de muitas maneiras. Uma das coisas que nós vimos, por exemplo em profissões que são extremamente desafiadoras e demandam nível de educação extremamente alto, é que as mulheres não estão tão bem posicionadas", avalia Carmen em entrevista ao podcast O Assunto desta quarta-feira (5).
No início da semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei que tem o objetivo de assegurar a igualdade salarial entre homens e mulheres que desempenharem a mesma função.
Nova lei da igualdade salarial: saiba os principais pontos
"Nós fizemos uma pesquisa [...] com mulheres que estavam na gerência, média, alta gerência, e não estavam se candidatando a cargos de diretoria. O que elas diziam é 'na média gerência ou na alta gerência, mas sem passar para cargos de diretoria e presidência, eu consigo equilibrar algum cuidado com a minha família com uma certa estabilidade no emprego'."
Há, ainda, questões raciais que fazem a desigualdade salarial pesar ainda mais para negras, que ganham, em média, menos da metade do que os homens brancos e amarelos e o equivalente a 60% do rendimento médio das outras mulheres.
"Quando nós olhamos para o nosso censo educacional, os homens negros estão na pior posição dentre todos os grupos em relação à performance escolar. Eles têm a maior distância, maior distorção entre idade e série, têm a maior taxa de repetência, têm a maior taxa de abandono escolar, e isso está ligado a essa posição dessa mãe que trabalha muitas horas", diz Carmen.
"Ter um planejamento de cuidado com a infância tem resultados melhores não só para o aumento do salário das mães negras, mas também para melhor inclusão social futura dessas crianças."
Fonte: https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/07/05/alem-do-genero-como-dupla-jornada-maternidade-e-raca-impactam-na-diferenca-de-salario-entre-homens-e-mulheres.ghtml